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Você gosta de ter certeza sobre as coisas?

A segurança está entre os valores mais comuns para os seres humanos. Ela dá tranquilidade, satisfação e alívio. Ter certeza sobre seja o que for é altamente reconfortante. Saber o que vai acontecer e como as coisas se desenrolarão no trabalho e na carreira é verdadeiramente prazeroso, e talvez aqui esteja uma das piores armadilhas para a preocupação excessiva.

Vivemos em um mundo onde a única certeza é de que as coisas mudarão. Por que então iludir-se com a necessidade da certeza sobre as coisas? Parece um pouco com a analogia de buscar uma estabilidade para o corpo ficando em pé em cima de uma bola de futebol. Será que dará certo?

Dia a dia, fatores como o clima, a economia, acidentes, incidentes, políticas públicas, condições socioculturais, estão em constantes adaptações; com isso, outros ajustes acontecem e retiram nossa autonomia para determinar, baseados apenas nos nossos esforços, o que vai efetivamente acontecer.

Se pensarmos nas pessoas envolvidas conosco no cotidiano do trabalho, vamos também notar, com certa clareza, que elas (como cada um de nós) sofrem várias influências que retiram a firmeza que poderia existir debaixo dos nossos pés. As pessoas mudam o tempo todo. Basta que um ou outro indivíduo esteja emocionalmente abalado em determinado dia, para que toda a certeza sobre os resultados seja eliminada.

Ninguém entra no mesmo rio duas vezes. Na segunda vez, a pessoa entra com a experiência da primeira; ela já estaria diferente. E, mesmo que a pessoa não tivesse se modificado, o rio seria outro; a água passou. Por que esperar que as pessoas sejam iguais ao longo dos meses e anos?

Ouço reclamações de lideranças empresariais de que as pessoas que trabalham na empresa não são mais as mesmas. Na verdade, me assustaria se eles me dissessem que as pessoas são as mesmas. Isso seria antinatural. Da mesma forma quando falam das mudanças com fornecedores, clientes, concorrentes, legislação etc. É assim, tudo está em transformação. E seguirá sendo assim. Por que perder tempo e energia brigando contra as incertezas da vida? É melhor relaxar, acompanhar, monitorar e procurar adaptar-se da melhor forma possível. Mas sem preocupação excessiva.

Fazer as coisas como precisam ser feitas aumentará as chances de alcançar o objetivo pretendido. Mas vai garantir? Evidente que não. Existem e existirão fatores alheios às nossas vontades que influenciam o resultado. É importante que que cada um de nós possa refletir sobre a real necessidade de se ter certeza sobre as coisas.

Penso que precisamos conviver melhor com a ideia do “talvez”. Ela acaba nos libertando de boa parte das preocupações que nos afligem de forma desnecessária. Talvez dê certo, talvez eu consiga, talvez as coisas melhorem, talvez o passeio seja agradável, talvez possamos aprender algo novo etc. Quando entendemos que as certezas não serão parte inerente às nossas experiências, deixamos de nos preocupar de forma exacerbada. Passaremos então a ser negligentes com as consequências? De novo, não. Apenas passamos a usar a inteligência quando sabemos que a incerteza será sempre a única certeza.

A dúvida é uma condição desconfortável, mas a certeza chega a ser ridícula”. (Voltaire)