Seja Gentil com Seus Fracassos!
Quando as coisas dão certo, é só alegria…
Comemoramos e, por vezes, ficamos eufóricos. A vida tem brilho. Momentâneo, mas é brilho.
Mas, do ponto de vista da aprendizagem, crescimento e desenvolvimento, é quase nada. Depois de algum sucesso obtido, não costumamos nos tornar melhores. Pelo contrário: depois da vitória, frequentemente vem a acomodação, um sentimento bobo de sermos especiais e um entendimento de que chegamos efetivamente em algum lugar. Este estado pode trazer arrogância e uma certa estagnação. As vitórias podem funcionar como um convite sedutor para parar de evoluir.
As vitórias podem se transformar em derrotas doloridas à medida que não sabemos lidar com elas. Aquilo que parece o melhor dos mundos pode também servir como fonte de dificuldades, por conta de uma compreensão equivocada do que ela realmente representa. Em geral, do ponto de vista da aprendizagem, da evolução e do desenvolvimento, as vitórias não são tão eficazes. Elas podem endossar uma capacidade adquirida; mas não necessariamente servirão como um estímulo para seguirmos vigilantes no sentido da melhoria.
Por outro lado, quando as coisas dão errado, temos que, obrigatoriamente, repensar as nossas práticas. A necessidade de não voltar a bater a cabeça no mesmo lugar faz com que busquemos adaptações na forma de fazer as coisas. Será preciso revisar o caminho e encontrar alternativas que poderiam trazer melhores resultados.
Como consequência, teremos repertório superior para lidar com os problemas de forma muito mais eficiente. Tanto para lidar com as próximas demandas, quanto para clarear o caminho de tantas outras pessoas que passam por problemas semelhantes. Quando temos dificuldades e buscamos novas saídas, servimos de referência para que outras tantas pessoas também se beneficiem. Esse ganho é algo muito valioso.
Ninguém aqui está exaltando a benção de chutar o pé da cama e fraturar o dedo. Mas, quando isso acontece (e talvez já tenha acontecido com você), ficamos muito mais atentos para que não volte a ocorrer. Orientamos os filhos para o cuidado com o pé da cama, procuramos dicas (quem sabe no YouTube) de revestimentos para os pés da cama que diminuem o impacto, ou buscamos indicação de possíveis terapias para que a dor seja menor e a recuperação mais acelerada. Perceba que é no contexto da dificuldade que vem a evolução.
Todas as suas habilidades mais importantes foram adquiridas como fruto de tentativa e erro. Quando olhamos para trás, percebemos que a vida, felizmente, foi uma sequência de derrotas altamente edificantes. Aprendemos as coisas mais complexas e relevantes passando por dificuldades e frustrações. Basta uma análise um pouco mais detalhada para o passado para perceber que somos melhores porque somos fruto de alguns tropeços ou desilusões.
Se você pensar e executar um projeto, e ele trouxer bons resultados quase que instantaneamente, talvez você entenda que tem mais capacidade do que realmente tem. Isso pode parecer perfeito; mas, na verdade, do ponto de vista educativo para uma vida mais inteligente, é pura ilusão. Por conta de viver essa vida onde os fracassos são escondidos e o sucesso é promovido por todos os cantos, queremos evitar as experiências de frustração de forma profundamente infantil, até o envelhecimento.
Quando o sucesso vem com relativa facilidade, sem tentativas variadas e sistemáticas, temos a tendência de subestimar os esforços para a próxima empreitada. Entendemos que já aprendemos o que era necessário. Passamos a acreditar que os próximos desafios serão simples. Com isso, naturalmente, nos esforçamos menos no estudo do problema, na preparação do plano, na execução das tarefas e no controle das ações.
Quantas histórias você conhece de atletas de futebol que tiveram uma carreira meteórica e passaram a ser tratados como verdadeiros fenômenos, com um ganho financeiro gigantesco antes dos 20 anos de idade? E, depois, como se seguiu na maioria das vezes a vida profissional e pessoal deste atleta? Mesmo nos últimos anos, com muitos conselheiros, coachs e orientadores de carreira, percebemos, no mínimo, uma estagnação na vida profissional – e dificuldades ainda mais importantes para administrar as questões pessoais. Esses atletas, assim como muitos de nós, caem na armadilha que o sucesso impõe. Se veem como pessoas mais capazes do que realmente são. De forma quase automática, passam a se comportar (nos treinamentos e na vida social) como profissionais relapsos que não têm tanta necessidade de seguir buscando aprimoramento.
Ainda utilizando o esporte como referência, os treinadores têm seu maior desafio em tentar manter a performance de equipes campeãs. A provável acomodação, o sentimento de superioridade e a arrogância podem se transformar em uma barreira dificílima de ser transposta. As pessoas que compõem a equipe são normalmente submetidas a choques mais importantes para não cair na armadilha da vitória. Por quê? Porque, do ponto de vista da aprendizagem e melhoria contínua, os sucessos ensinam pouco.
Mas após as derrotas, naturalmente, nos colocamos em uma postura de quem tem que encontrar alternativas para virar o jogo. À medida que enfrentamos um problema de frente e superamos, saímos dessa experiência muito melhores do que entramos. Independentemente do resultado, a partir dessa vivência, já nos encontramos em um nível superior.
Com isso, eu estou propondo que cada um de nós desvalorize as vitórias e fique feliz com as derrotas? Evidente que não. Comemorar as vitórias seguirá sendo algo a ser feito e desfrutado. Celebrar os momentos de alegria ou de conquistas é profundamente louvável e saudável. Mas é decisivo que possamos olhar para os fracassos como presentes que recebemos. Na maioria das vezes, será através deles que encontraremos caminhos mais eficazes e sustentáveis para alcançar nossos objetivos na vida pessoal e profissional.
“É bom comemorar o sucesso, mas é mais importante prestar atenção às lições do fracasso.” (Bill Gates)