Ajuda Mútua e Produtividade
Generosidade e produtividade, muitas vezes, são vistas como coisas antagônicas. Seriam mutuamente excludentes na visão de alguns. Mesmo que o discurso das lideranças, em muitas oportunidades, não seja feito nessa linha, o que eu observo no dia a dia é que, equivocadamente, os seres humanos no trabalho tratam de enrijecer o coração como se este ato fosse uma ferramenta indispensável na gestão das próprias atividades. Isso leva a uma cultura na empresa onde os gestos de ajuda passam a ser vistos com desconfiança, empobrecendo demais o rendimento profissional em função do comprometimento constante do clima organizacional.
A produtividade nas empresas está seriamente atrelada ao conceito da visão sistêmica. Neste sentido, verificamos que os departamentos e as pessoas que compõem a empresa são, antes de qualquer outra coisa, interdependentes. Estão a todo o tempo atuando e impactando a vida de outras pessoas (e outras áreas da empresa), bem como sendo impactadas pelas atividades desenvolvidas por outros componentes da organização. Caso as ações de uma parte não sejam voltadas para o bem das outras partes, a tendência é que a empresa sofra as consequências desses comportamentos.
O rendimento da organização é prejudicado pela falta de interação positiva. As pessoas não se ajudam e, muitas vezes, se esforçam para que o trabalho do outro seja comprometido. Ocorre uma ação antagônica à ajuda mútua; e o prejuízo é para a empresa como um todo.
Em uma reportagem da revista americana The Economic Times, há o relato de uma pesquisa realizada com a finalidade de verificar o impacto da generosidade sobre a produtividade. Francis Flynn, professor na Escola de Administração da Universidade de Columbia (EUA), desenvolveu estudo com 161 engenheiros em uma empresa da área de telecomunicações sediada próximo à cidade de São Francisco. Eles trabalhavam em oito equipes distribuídas pelo país. Flynn perguntou a cada engenheiro (funcionário) quão frequente eram as ajudas mútuas (como aconselhamento técnico, por exemplo) entre os membros da equipe e, quem, em cada caso, foi mais generoso nessas trocas de gestos de ajuda.
Em seus testes de correlação, Flynn percebeu que os funcionários que eram mais generosos, mas que recebiam muito pouco em troca, eram muito bem vistos pelos colegas. Por outro lado, eram menos produtivos. Aqueles que recebiam frequentemente gestos generosos, na mesma proporção que se doavam aos colegas, eram bem mais produtivos. Outra observação é que um padrão frequente de "dar e receber” alavancava a produtividade e posição social dos membros dentro das equipes.
Uma pergunta a ser respondida: Por que a produtividade aumenta quando os membros de uma empresa se ajudam mutuamente? O responsável pela pesquisa tem duas explicações. A primeira é que os funcionários aprendem mais sobre os recursos/ferramentas que eles podem oferecer uns aos outros; eles desenvolvem um padrão mais eficiente de requerer e doar gestos de ajuda. A segunda é que funcionários solidários aprendem a confiar mais uns nos outros, ficando mais propensos a ajudar no que for preciso, porque ficam mais seguros da probabilidade da reciprocidade entre os componentes da equipe. Isso sem falar no quanto é agradável trabalhar com pessoas generosas.
Parece claro que não é de interesse de uma liderança empresarial, ter na equipe profissionais sem o sentido da generosidade razoavelmente desenvolvido. A sustentabilidade e o lucro das empresas estão associados ao interesse comum pelo sucesso de todas as áreas e pessoas.
Quando a ajuda mútua passa a ser a regra, em qualquer sinal de perigo iminente, uma área procura alertar e ajudar a outra para que não ocorram insucessos em um ou outro departamento da empresa. Observa-se a sinergia. O efeito dessa inter-relação é multiplicado e os resultados são surpreendentes.
O crescimento ocorre em função do estímulo à aprendizagem em equipe. Todos os membros e áreas procuram contribuir com suas especialidades para que as outras áreas tenham mais recursos para desenvolver suas atividades; da mesma maneira que se abrem para receber o mesmo tratamento dos seus pares. É uma troca de gestos de ajuda que traz, invariavelmente, a evolução constante das relações e do rendimento entre todos os elementos envolvidos na construção de uma empresa melhor.
Grande abraço!